Categoria: Documentação (Page 1 of 2)

Artigos que irão aparecer na página Informações>Documentação

Reunião entre a Secretária de Estado da Cultura e o STARQ

Decorreu no dia 30 de agosto a reunião entre o STARQ e a Secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro. O sindicato chamou a atenção para a necessidade urgente de contratação de trabalhadores com vínculo público e permanente para a DGPC, reiterando a escassez de trabalhadores face ao volume de trabalho existente e ao envelhecimento dos quadros. O STARQ destacou a urgência de contratação de 4 Arqueólogos para o CNANS (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática), sem os quais o serviço entrará em rutura. Também referiu a contratação de 4 investigadores para o LARC (Laboratório de Arqueociências), sendo 2 para ocupar postos de trabalhos vagos por aposentação. No seguimento da reunião, o sindicato entregou ao gabinete da Secretária de Estado uma tabela com as necessidades de recrutamento. Apesar da preocupação transmitida pela Secretária de Estado, não houve qualquer compromisso para a contratação de trabalhadores para os postos de trabalho reivindicados.

Relativamente às questões levantadas pelo STARQ sobre a reestruturação da DGPC, a Secretária de Estado informou que serão elaboradas listas de trabalhadores que irão transitar para as diferentes instituições (Património Cultural, I.P., CCDR e Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E). A colocação dos trabalhadores não depende da escolha dos próprios, ao contrário do tinha sido afirmado pelo ministro da Cultura e Secretária de Estado aquando da apresentação pública desta reestruturação.

As questões relacionadas com a falta de meios e com a transição digital foram abordadas pelo sindicato. A Secretária de Estado referiu que a modernização do Endovélico, Sistema de Informação e Gestão Arqueológica e a digitalização do Arquivo da Arqueologia Portuguesa não estão abrangidas pelo PRR, levantando a hipótese de que ambos possam ser abrangidos por outro programa de financiamento, nomeadamente o sistema de apoio à transformação digital da Administração Pública (SAMA2020).

Apesar da Secretária de Estado da Cultura ter garantido ao STARQ, durante a reunião, que estavam a ser desenvolvidos esforços para que o concurso para o Plano de Nacional de Trabalhos Arqueológicos (PNTA) fosse lançado em 2023, o sindicado foi posteriormente informado pelo gabinete da Secretária de Estado da Cultura que, “considerando os procedimentos em curso da reorganização da DGPC e a especial complexidade de todo este processo de transição, será complicado lançar o concurso do PNTA ainda este ano”. Ou seja, há verba alocada no orçamento de estado para o PNTA mas, mais uma vez, não há vontade para a sua execução, o que denuncia a pouca importância e consideração que é dada ao património arqueológico e aos trabalhadores de arqueologia, pelos agentes decisores atuais.

Parecer do STARQ – Consulta Pública sobre “Simplificação de licenças e procedimentos para empresas na área ambiental”

Foi recentemente colocada em consulta pública uma proposta de Decreto-Lei que pretende simplificar (ou como o entendemos, dispensar) os procedimentos de Avaliação de Impacto Ambiental. 

O STARQ entendeu ser este diploma imensamente prejudicial para a actividade do sector, salvaguarda do património arqueológico e, por reflexo, dos trabalhadores de Arqueologia.

Desse modo submetemos uma apreciação muito negativa do Decreto-Lei proposto (em anexo).


Caderno Reinvindicativo

Ser profissional de Arqueologia em Portugal significa, para a grande maioria, trabalhar sob um regime de precariedade e desregulação laboral, em condições pouco dignas e injustas. Neste sentido, a elaboração de um Cader­no Reivindicativo para o trabalho em Arqueologia, como proposta concreta de discussão e de mobilização para a transformação e melhoria das condições de trabalho, constitui um eixo fundamental e prioritário da ação do STARQ – Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia.

Por outro lado, ao apelar à discussão e participação das reivindicações formuladas, o STARQ procura ampliar o esclarecimento dos trabalhadores, criando entre eles um maior e mais forte sentido de organização e unidade, essenciais na conquista e garantia dos seus direitos.

CADERNO-REIVINDICATIVO_2020_Documeto_Base


Envie-nos a sua sugestão ou comentário.

    Denúncia de prácticas ilegais de detectorismo

    OFICIO Nº 12/2019
    A.DIRECÇÃO/Lisboa, 21-03-19

    Recentemente, o STARQ teve conhecimento de alguns canais da plataforma “YouTube”, onde foram publicados vídeos demostrando práticas de prospecção de terreno, com recurso a detectores de metais e consequentes achados de valor histórico/ arqueológico.

    Na sequência da visualização desses vídeos foram identificados vários canais de
    “detectorismo”, páginas e grupos de “Facebook” e fóruns existentes na web onde são publicadas imagens/vídeos e textos destas mesmas práticas, listados no final desta denúncia.

    A detecção com recurso a este equipamento, sendo ilegal sem a respectiva licença (Lei nº121/99), segundo o artigo 1º, alínea 1, da mesma lei: “É proibida a utilização de detectores de metais na pesquisa de objectos e artefactos relevantes para a história, para a arte, para a numismática ou para a arqueologia”. A amplitude legal sobre estes actos criminosos inclui a Lei nº107/2001, que estabelece as bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural, e o Decreto-Lei nº164/2014, que regulamenta os Trabalhos Arqueológicos.

    Os actos observáveis em várias fotos e vídeos das referidas redes virtuais representam um perigo eminente para sítios arqueológicos, visto que a remoção dos objectos metálicos detectados implica a escavação de buracos que podem alcançar os 70 cm de profundidade, de acordo com o que é publicado nas referidas plataformas. Para além da recolha do espólio ser feito de forma destrutiva , o consequente caminho dos artefactos é completamente desconhecido, sendo mais provável ficar, de acordo com o que é relatado, retido em colecções privadas ou vendido para outros coleccionadores/antiquários. Em todas as publicações é claro que os intervenientes têm consciência que estão em sítios arqueológicos e que são conhecedores do significado da maioria dos artefactos recolhidos, particularmente as moedas. O nome dos sítios não é divulgado, mas em algumas situações são referidas as localidades.

    No espaço de duas semanas, após o início da nossa pesquisa, houve pelo menos um canal que foi eliminado (o Rabino Edições) e outro que colocou os vídeos de detectores em modo privado (Adegas Crak). Muitos dos grupos no facebook e partes dos fóruns estão vedados, apenas para utilizadores autorizados.

    Perante esta situação, solicitamos que actuem sobre os envolvidos, nos termos das vossas competências. Da nossa parte, continuaremos atentos a eventuais publicações e denúncias e mostramos disponibilidade para colaborar.

    A Direcção do STARQ

    Lista dos canais, páginas e grupos identificados:

    Canais Youtube:

    Adegas Crak (tem vídeos desde 2014 que neste momento estão em modo privado):
    https://www.youtube.com/user/adegas1/videos

    Buda & Peste:
    https://www.youtube.com/user/astrojoca/videos

    Rabino Edições (canal eliminado):
    https://www.youtube.com/channel/UChRSECzSCAcDKqJulyqq-gw/videos

    Toupeira do Detectorismo:
    https://www.youtube.com/channel/UCbxUvst7-0e9jju09FKpfZA

    Metal Detecting UK (há pelo menos um vídeo feito em Portugal):
    https://www.youtube.com/channel/UCn8jiDQ9W8HQbQK1se42ipg

    Pirata 4760:
    https://www.youtube.com/channel/UCqoIuVZx21LSaOcuAoyhQjA/feed

    Alika Portugal:
    https://www.youtube.com/channel/UC3QNgTunNzQk_Q8At83xq3Q

    Foruns:

    http://prospectordemetal.forumeiros.com/forum

    http://detectoresportugal.forumeiros.com/

    Páginas/Grupos de Facebook:

    https://www.facebook.com/Amigos-Detectores-De-Metais-De-Portugal-
    2093126427634954/

    https://www.facebook.com/Detetor-De-Metal-Lazer-575274122832475/

    https://www.facebook.com/detectoristasblog/

    https://www.facebook.com/Detector-de-metaisbusca-de-objectos-perdidos-
    443146045834622/

    https://www.facebook.com/groups/detectoristasportugal/


    Procedimentos para a votação relativa à eleição dos órgãos sindicais para o triénio 2017-2020

    1. Listas
    De acordo com o n.º 1 do Art.º 43º as listas podem ser propostas por qualquer associado, devendo ser apresentas «até 20 dias antes das eleições através de procedimento escrito dirigido à mesa da assembleia geral, contendo o nome e
    número de associado dos candidatos efectivos e suplentes, com discriminação do órgão a que cada um se candidata, a declaração individual de aceitação decandidatura e o programa de acção».

    Com a apresentação da lista de candidatos é feita a indicação dos associados que irão integrar a comissão eleitoral, nos termos do artigo 44.º dos estatutos.

    A mesa da assembleia geral organizará uma relação das candidaturas aceites e com a identificação dos candidatos pelo nome completo, número de sócio, designação da entidade patronal, local de trabalho e funções para que é proposto para afixação na sede e divulgação pelos meios próprios do Sindicato, em conjunto com os respectivos programas das listas concorrentes.

    2. Votação

    As votações respeitantes às eleições dos órgãos da Associação serão feitas obrigatoriamente por escrutínio secreto, podendo, em consonância com o n.º 2 do Art.º 25º, ser permitido o voto por correspondência de acordo com os
    seguintes requisitos:

    a) cada voto deverá ser formulado numa folha de papel branco, indicando o nome da lista em que pretende votar;
    b) o «boletim de voto» deverá ser encerrado num envelope opaco fechado, contendo apenas a referência «votação orgãos sociais STARQ 2017-2020»;
    c) este envelope deverá, por sua vez, ser enviado num outro envelope que inclua o nome completo do remetente, para que possa ser verificado o seu direito a voto e no endereço a mesma referência «votação orgãos sociais
    STARQ 2017-2020»;
    d) os votos deverão ser enviados de forma a assegurar que chegarão ao STARQ a tempo da Assembleia Geral, ou seja até ao dia 18 de Novembro.

    Os envelopes exteriores apenas serão abertos durante a votação, pela comissão eleitoral, igualmente constituída por representantes de cada lista, sendo os envelopes interiores colocados na urna, após confirmação do direito a voto e da
    não duplicação de voto. Os envelopes contendo o boletim de voto apenas serão abertos durante a contagem dos votos


    Lista A – Programa Eleitoral

    Enquadramento

    As primeiras eleições para os Corpos Gerentes do Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia, realizadas em 2014, decorreram no contexto muito particular da criação de uma nova estrutura sindical, que estava a dar os primeiros passos e que tinha ainda um longo caminho a percorrer. Como nessa altura, continuamos hoje a viver um momento de intenso ataque aos direitos laborais e sociais dos trabalhadores em geral. Muitos trabalhadores de Arqueologia continuam sujeitos a trabalhar sob falsos recibos verdes, existindo recorrentes dificuldades devido a ordenados em atraso, à inexistência de subsídios de Férias e Natal, ao trabalho não remunerado relativo a horas extraordinárias ou a fases de produção de relatório, à ausência de contratação e negociação colectiva, à falta de apoios e benefícios sociais, numa profissão com grande incidência de doenças profissionais e de grande desgaste físico, e ao não pagamento de
    materiais de trabalho e de despesas de deslocação.

    Os trabalhadores de Arqueologia com vínculo ao Estado sofrem também graves ataques aos seus direitos, consubstanciados, nomeadamente, em situações degradantes como as amplamente noticiadas referentes ao CNANS-DGPC ou a vários museus ameaçados, na continuação do seu funcionamento, pelo subfinanciamento da Cultura. Agrava-se, pois, sempre e crescentemente, a preocupante situação de envelhecimento e não-rejuvenescimento e do inexorável e crescente deficit dos recursos humanos nos organismos públicos dependentes do Ministério da Cultura, tanto ao nível técnico e científico como ao nível do atendimento ao público. Este último, especialmente escandaloso quando confrontado com o extraordinário aumento de visitantes em museus e monumentos, mercê do crescimento verificado no sector do turismo.

    As políticas levadas a cabo têm vindo a destruir as anteriores conquistas com o subfinanciamento, a incúria, a venda ao desbarato, a descaracterização de funções, com políticas que dificultam o estudo e investigação, a fruição, o contacto directo de todos com os bens patrimoniais. O desinvestimento do Estado tem reflexos profundos na conservação, divulgação, investigação e democratização do Património. «Proteger e Valorizar o património cultural do povo  português», tarefa fundamental, plasmada na Constituição da República Portuguesa (artºr9), é uma tarefa diária para os profissionais de Arqueologia e do Património Cultural. A função do Arqueólogo, e o seu trabalho, assumem particular relevância na preservação da «nossa realidade» e «origem». Por isso, a prossecução quotidiana deste objectivo não pode espelhar o oposto da sua importância. Não se pode dissociar a valorização do património, da valorização do trabalhador.

    Trabalhar em Arqueologia e na área do Património tornou-se cada vez mais num sinónimo de precariedade e baixos salários (no limiar do SMN). Só a estabilidade material e laboral dos profissionais poderá promover a importância da Arqueologia e do Património Cultural enquanto ferramenta para o progresso na nossa sociedade. A degradação das condições profissionais dos trabalhadores da área da Arqueologia, Conservação e Restauro e Antropologia coloca em causa a prossecução de uma «boa política cultural». Assim, a luta pela melhoria dos salários, pelo emprego e pelos direitos em Arqueologia, é algo que urge continuar e reforçar. Estes problemas exigem a afirmação de um projecto sindical forte, determinado, dinâmico e representativo, exigindo de todos nós grandes esforços no reforço da unidade e na luta pelos direitos dos trabalhadores. O esclarecimento, a participação e a mobilização dos trabalhadores é o caminho que a LISTA A se propõe trilhar, com a certeza da importância de uma organização sindical de classe, de massas, responsável, democrática, fortemente reivindicativa e solidária.

    Propostas

    É necessário estabelecer, desde logo, uma linha de trabalho empenhado e constante, assente num modo de funcionamento democrático e no interesse dos trabalhadores de Arqueologia.

    Objectivos de trabalho da Direcção:

    • Criação de Grupos de Trabalho constituídos por sócios do STARQ com o objectivo de alargar a participação activa do maior número de associados, aprofundar a análise das questões em debate e ajudar à resolução concreta dos problemas dos trabalhadores.
    • Informação permanente aos sócios através de comunicados, boletins, espaço da internet e contactos com a comunicação social.
    • Disponibilização de informação sobre a legislação que incide sobre o grosso dos trabalhadores em Arqueologia (nomeadamente, arqueólogos, antropólogos físicos e conservadoresrestauradores) e sobre a área em si, com a concepção de materiais gráficos e informativos, visando esclarecer os associados sobre os seus direitos.
    • Revitalização no nosso sítio da Internet.
    • Identificar os problemas individuais e colectivos dos associados, tentando garantir a sua resolução, defender os seus direitos e denunciar situações de incumprimento e atropelo de direitos a todo o tempo.
    • Deslocar com frequência aos locais de trabalho e intervir sempre que se revelar necessário.
    • Continuação e, se possível, reforço da avença jurídica contratada, por forma a dar o máximo apoio aos membros do sindicato.
    • Reforço da Organização Sindical, iniciando uma campanha de sindicalização, através de contactos directos e de meios informáticos.
    • Concepção de materiais de publicidade, veículos essenciais na divulgação de acções de luta, actividades e ideias-chave do STARQ.
    • Mobilização e consciencialização dos trabalhadores com vista à sua participação activa na vida do Sindicato, nos movimentos e processos reivindicativos.
    • Organização de reuniões abertas e de sessões de esclarecimento públicas para trabalhadores com vista à mobilização da classe, fomentando a participação dos associados e a adesão de novos sócios.
    • Formação sindical destinada aos dirigentes, delegados e activistas sindicais.
    • Gestão rigorosa dos meios financeiros do Sindicato.
    • Cooperação, de forma articulada, com o Movimento Sindical Unitário e estabelecimento de contactos com outras estruturas sindicais.
    • Participação em movimentos de luta nacional no âmbito da Cultura e Património e também em defesa de melhores salários e emprego com direitos.
    • Estabelecimento de contactos com entidades de natureza não sindical do sector da Arqueologia.
    • Aprofundamento do conhecimento da realidade dos trabalhadores de Arqueologia, Conservação e Restauro e Antropologia.
    • Elaboração de um Caderno Reivindicativo do sector.
    • Elaboração de um Documento sobre as políticas públicas para o sector.
    • Papel reivindicativo e sensibilizador junto das várias entidades públicas, Governo e partidos políticos, chamando a atenção para os nossos problemas.
    • Celebração de acordos e protocolos com outras entidades que possibilitem aos associados usufruir de benefícios na aquisição de bens e serviços.
    • Organização de actividades culturais, desportivas e de lazer que fomentem o bem-estar e união dos associados.

    A Lista A considera que a ligação aos locais de trabalho é a melhor forma de ter um sindicato profundamente identificado com os problemas reais e concretos dos trabalhadores. Para isso, é fundamental:

    • Realizar plenários sindicais para discussão das questões de âmbito nacional e das questões concretas dos locais de trabalho, ouvindo os trabalhadores e estabelecendo em conjunto formas de combate e superação dos problemas.
    • Defender os trabalhadores sempre que os seus direitos sejam postos em causa.
    • Lutar pela melhoria das condições concretas nos locais de trabalho, quer ao nível das instalações, quer ao nível dos equipamentos.
    • Exigir o cumprimento das leis respeitantes às questões de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho.
    • Lutar pela inclusão dos trabalhadores da arqueologia nas profissões de desgaste rápido.
    • Defender a autonomia profissional e técnica dos trabalhadores.
    • Lutar contra a precariedade dos vínculos contratuais.
    • Pugnar pela construção da justiça social através da melhoria das condições remuneratórias.
    • Defender o direito ao trabalho como direito fundamental de acesso universal.
    • Promover o respeito pela ética e deontologia profissionais.

    STARQ pede responsabilidades sobre as graves situações no CNANS-DGPC

    OFICIO Nº 3/2017
    A.DIRECÇÃO/Lisboa, 04-10-17

    Na nossa dupla capacidade, enquanto sindicato e arqueólogos, chamamos a atenção para as graves questões laborais e patrimoniais que se têm sentido no Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS). Fazemo-lo pela segunda vez, preocupados com o incumprimento das «responsabilidades e competências no que concerne à salvaguarda e protecção do património nacional, de cariz náutico e subaquático, que detém à sua guarda» e que a própria Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), através da sua directora-geral, afirmou-nos atender, numa comunicação de 07-06-2017.

    Como pudemos testemunhar in loco, a 02-10-2017, as notícias que têm vindo a público não têm fugido da realidade, bem pelo contrário. Nas instalações do CNANS decorre uma obra que acarreta graves riscos e danos para o património arqueológico aí instalado e que evidencia uma problemática gestão por parte dos serviços do Ministério da Cultura (MC) do processo relativo às instalações do CNANS, que se arrasta sem solução desde 2010, com as consequências dramáticas que actualmente se verificam.

    A permanente atitude de desinteresse pelas propostas estratégicas atempadamente elaboradas pelos técnicos e apresentadas superiormente teriam evitado os problemas que se verificam no presente e permitido um adequado funcionamento deste serviço. A situação agravou-se devido à ausência de uma gestão rigorosa do processo de obra/mudança, sem a participação de técnicos habilitados para o efeito e sem que tivessem sido disponibilizados os meios adequados para garantir que a mudança decorresse de forma apropriada.

    A manifesta e escandalosa insuficiência de meios humanos para dar resposta às competências e necessidades do serviço (gestão, salvaguarda, estudo e valorização do património cultural disperso por 97% do território nacional, que se encontra imerso e em ambiente húmido e encharcado), há muito diagnosticada e para a qual não houve qualquer resposta dos serviços do Ministério da Cultura, não pode ser mais tolerada.

    tudo isto se soma a falta de consideração e devida ponderação pelos sucessivos avisos e alertas proferidos nos últimos meses pela Assembleia da República, por Associações de Património, Investigadores e Trabalhadores, que tentaram insistentemente que a DGPC e o MC dessem a devida atenção e provimento às suas justificadas preocupações sobre o presente e o futuro do CNANS.

    Como começámos por referir, o resultado desta postura é bem visível:

    1. Inviabilização do funcionamento regular do Laboratório de Conservação e Restauro do CNANS, nomeadamente das acções de conservação preventiva desenvolvidas quotidiana e correntemente, com incidência sobre os espólios em tratamento (nomeadamente o imerso) e em reserva;
    2. Manuseamento não autorizado, nem acompanhado, dos bens arqueológicos à guarda do CNANS pelos funcionários da obra (pessoal não habilitado) com todos os riscos inerentes;
    3. Elevado risco para a integridade e boa conservação dos bens arqueológicos à guarda da DGPC, alguns em processo de tratamento, inadequadamente protegidos durante as obras;
    4. Ocorrência permanente de contaminação dos tanques em que se conservam peças (com pó, lixos e substâncias estranhas) devido aos andaimes montados e às obras em curso em toda a área da reserva do CNANS;
    5. Elevado risco de contaminação e destruição do espólio documental deslocado para a zona da reserva devido às obras no piso superior;
    6. Risco de furto dos bens arqueológicos – verdadeiros tesouros nacionais – com elevado valor pecuniário, espólio documental e equipamentos, atendendo à circulação descontrolada de pessoal não afecto ao CNANS, em horário de obra e após obra (entre as 18h e as 8h as instalações do CNANS ficaram abertas com um buraco na parede durante alguns dias);
    7. Total desarticulação e mesmo desconhecimento da DGPC sobre os planos de obra naquele espaço do MARL;
    8. Total ausência de condições de trabalho (circulação em contexto de obra, sonorização, portas de segurança bloqueadas, inacessibilidade a espólio em tratamento, etc.) para os trabalhadores do CNANS;
    9. Inexistência de sistemas de minimização dos efeitos nefastos da obra sobre o laboratório e reserva de espólio arqueológico, nomeadamente, barreiras físicas de protecção e guarda-pós;
    10. Tentativa de responsabilização e pressão sobre os trabalhadores, tentando transferir para as vítimas directas as culpas da presente situação, que só podem ser imputadas aos dirigentes.

    Torna-se evidente que o plano de obra não acautelou as necessidades e o labor dos funcionários. Para além disso, iniciou-se sem os cuidados necessários à preservação do património e sem aviso prévio aos técnicos competentes. Se tal tivesse acontecido, a salvaguarda dos bens arqueológicos e a paragem do processo de reciclagem dos tanques de água teria sido acautelada nas devidas condições. Ao contrário do que afirma o Sr. Sub-director da DGPC, Arq. João Carlos Santos, a cobertura dos tanques com plástico foi posterior à instalação dos andaimes e não passa de uma medida de mitigação que condiciona em muito o seu processo de manutenção. A monitorização tem sido feita apenas visualmente. Há, inclusivamente, uma série de equipamento de manutenção que já foi empacotado.

    Posto isto, não existiu e continua a não existir uma avaliação rigorosa dos riscos para o espólio, equipamentos e documentação afectos ao CNANS. Não se sabe, efectivamente, se houve danos sobre este acervo. Essa avaliação só será possível quando o conservador e restaurador tiver acesso livre aos tanques para retomar o processo de tratamento e conservação do espólio arqueológico, isto é, quando a estrutura de andaimes for retirada. É, portanto, imperioso assegurar as condições que garantam a conservação preventiva dos bens arqueológicos à guarda do CNANS/ DGPC/ MC antes da continuação da obra. Sugere-se, ainda, que seja efectuado um apuramento do actual estado de preservação dos bens arqueológicos, e a consequente determinação de responsabilidades sobre as decisões tomadas, com abertura de um inquérito.

    Considera-se ainda imprescindível que a DGPC e o MC garantam aos trabalhadores do CNANS:

    1. Que a gestão da mudança de instalações tenha em consideração a implementação da proposta estratégica elaborada pelos técnicos da DGPC, dotando o CNANS de recursos humanos especializados e dimensionados às necessidades do País, sobretudo quando se considera o Mar como um desígnio nacional, respondendo assim às mais do que legítimas preocupações do sector (conforme aliás decorre também da Resolução aprovada por unanimidade pela Assembleia da República);
    2. Os meios logísticos, equipamentos adequados ao exercício das competências atribuídas àquele serviço para salvaguarda e conservação dos bens arqueológicos e ao acompanhamento dos trabalhos arqueológicos, como sejam, equipamento de mergulho, material de registo gráfico e fotográfico, liofilizadora, equipamento de elevação e movimentação das peças imersas em tanques de impregnação, câmara de secagem, entre outras;
    3. As condições de segurança e de higiene básicas no serviço, como acesso às instalações sanitárias, portas de emergência, entre outras;
    4. Programas formativos devidamente certificados necessários à execução das suas atribuições e que lhes garantam experiência e segurança na área do mergulho, no manuseamento dos equipamentos necessários à sua deslocação (meio terrestre e náutico), reboque e pilotagem de veículos e embarcações.

    Assim, no caso de não serem tomadas medidas que resolvam os problemas levantados, sentimo-nos enquanto sindicatos na obrigação de expor a situação publicamente, recorrendo, igualmente, aos meios legais para que se reponha o cumprimento da lei.

    « Older posts

    © 2024

    Theme by Anders NorenUp ↑