Editorial
Mais um semestre decorrido com a pandemia da Covid-19, a primeira metade do mesmo passado em estado de emergência, durante a qual a grande maioria dos profissionais de arqueologia e património continuou diariamente a executar o seu trabalho em prol da defesa, estudo e valorização do património cultural.
Mais um semestre de precariedade laboral para os profissionais de arqueologia e património, mascaradas sob uma crise económica, que é passado, presente e futuro no discurso do capital e das entidades patronais. Esta não é mais que uma forma de oprimir os trabalhadores, procurando inibi-los de reivindicar por condições laborais e salariais justas e dignas.
Um semestre onde a recém-empossada direção do STARQ, na continuidade dos mandatos anteriores, prosseguiu a demanda por melhores condições de trabalho e de vida para os profissionais da arqueologia e do património cultural, dos setores privado e público, e pela salvaguarda do património. Muito deste trabalho é invisível: aconselhamentos e apoios laborais e jurídico a associados e não-associados. Outro é mais visível: intervenções nas redes e comunicação social e através desta publicação trimestral, Interface: boletim informativo, que se convida à sua leitura.
Neste sexto número, porque no STARQ acreditamos tratar-se de um dos problemas centrais nas lutas laborais e sociais, dá-se particular destaque, editorial e ao longo da publicação, à campanha e ações levadas a cabo no âmbito da Semana da Igualdade em parceria com a Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN.
Em pleno confinamento as ações foram efetivas e ao mesmo tempo cumpriram todas as normas sanitárias. Assim, a campanha consistiu: 1) na visita a uma empreitada, em Lisboa, com vários profissionais de arqueologia, entre eles uma delegada sindical, para ali discutir as condições laborais, ouvir os trabalhadores e sensibilizar para questões profissionais ligadas diretamente à igualdade no trabalho; 2) através de uma conversa, entre a Sara Brito e a Sara Simões (STARQ) e a Mariana Chaves (NARQ – Núcleo
de estudantes de Arqueologia, NOVA FCSH), sobre a Desigualdade de Género em Arqueologia (e não só); 3) na forma de uma campanha online, intitulada Semana da Igualdade | Unidos pelo trabalho digno em Arqueologia, nas redes sociais do STARQ.
A campanha Semana da Igualdade revelou-se um sucesso. Publicaram-se 21 participações, as que o tempo permitiu e, aquelas que melhor refletem o espírito da mesma, são republicadas ao longo deste boletim. Num setor onde a paridade é norma, esta campanha revelou-nos, quer pelas preocupações e reivindicações demonstradas pelos participantes, quer pelas reações de resistência ou apoio, que as mesmas e a campanha receberam, que as questões da igualdade são ainda muito incompreendidas, incómodas, ou secundarizadas relativamente à precariedade que paira sobre a arqueologia. No STARQ as questões da igualdade e da representatividade na profissão são assuntos fundamentais e indissociáveis das lutas laborais e da busca de uma sociedade melhor e mais
equilibrada. Entre Abril de 1971 e Abril de 1972, em plena ditadura, foram escritas as “Novas Cartas Portuguesas”, um dos manifestos fundamentais do feminismo contemporâneo, da defesa da emancipação feminina e dos direitos iguais. Na Terceira Carta IV lê-se que “Se resistente é a economia e a política – depois dos capitalismos, dos colonialismos e dos socialismos, têm vindo todos os neo e os revisionismos, e enquanto não houver máquina de fazer filhos é a mulher quem os faz, e o problema não será só de capataz ou patrão, mas o de uma sociedade ser também construída a partir disto, do significado do trabalho e de quem o faz – se resistente é a economia e a política, mais é tudo o que as sustém”, reflexo das enraizadas desigualdades na nosso sociedade, hoje parcialmente sanadas, algumas das quais novas, criadas pela contemporaneidade social. A luta sindical, na busca da igualdade e de mais dignas condições laborais quer-se coletiva, multivocal e diária e no STARQ é o que temos vindo a procurar fazer. Quantos mais formos, mais ouvidos seremos.
Sindicaliza-te, junta-te ao STARQ.
(M.C.)